quinta-feira, 29 de novembro de 2012

QUE DISPARATE



(inspirada em fato verídico, com nomes fictícios de personagens e logradouros)

O Valentim foi um antigo soldado do corpo de bombeiros.
Exímio piloto; era ele quem conduzia o Magirus-Deutz para os eventuais incêndios na Região Metropolitana de São Paulo.

Estava casado com uma moça do interior de SP, cujo pai fora um prefeito ilustre da cidade e com o qual conviveu nos primeiros anos de matrimônio.

Tendo falecido o sogro, Valentim propôs aos vereadores e ao prefeito sucessor, que fosse dado o nome de Rodovia Gualberto Negreiros de Sá, à estrada vicinal que atravessava a zona rural da cidade.

Depois de dezenas de abaixo-assinados e inúmeras idas e vindas à câmara municipal, finalmente Valentim, viu seu sonho de genro tornar-se realidade: aprovaram sua ideia.

No dia da inauguração, em frente à feérica placa rodoviária onde constava o nome do sogrinho querido, o próprio Vavá (como era conhecido) postou-se diante da mesma, maço de folhas de papel na mão, pigarreou por um instante e perante uma centena de pessoas, a maioria peões de fazenda, com banda de música, chope e churrasco, discursou eloquentemente, contando a história do querido sogro e de sua luta pelo desenvolvimento da cidade como prefeito honesto e progressista, autor de grandes obras: hospital, escola e posto de saúde, praça central e etc..

Aplaudido entusiasticamente pela peonada e beijado amorosamente pelas comovidas: esposa e sogra, Valentim encerrou o discurso, agradecendo a todos.

Mal se afastaram, Valentim sacou um calibre 38 que carregava desde os tempos de PM e disparou 5 tiros na virginal placa.
Assustados pelos estampidos, um dos convivas virou-se e contemplou de modo estático a tresloucada ação.
Aguardou a aproximação do Vavá e perguntou:
- Que loucura é essa, Vavá? Não entendi...
Calmamente, Vavá respondeu-lhe:
- Cara, eu sei que já e já vão crivar essa placa de balas, como outras tantas por aí. Ora...  Depois de tanto trabalho... Eu merecia ser o primeiro, concorda?

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

AOS GOVERNANTES

Se deixarem de investir em Educação*, terão que expandir os presídios... O que é muito mais dispendioso aos cofres do erário. E irreversível.

*Investimento em educação, não é só construir escolas, mas atualizar toda a estrutura educacional existente.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O DIA EM QUE SÃO PAULO PAROU



O guri que fui, adorava histórias contadas pelas avós. Uma dessas histórias das quais me recordo até hoje, conta que uma vez, numa cidadezinha do “faz de conta” vivia um único médico. Esse dedicado clínico era muito bom. Bom mesmo. Seus diagnósticos eram simplesmente extraordinários. Curava de verdade todos os doentes que apareciam no consultório. Era incansável.
Mas, numa ocasião, ao perceber que estavam todos sãos, não pensou duas vezes: – Vou tirar umas férias! Afinal de contas eu mereço – pensou.
Colocou as malas no carro e partiu. Iria para um local distante dali.
Em dado momento, na estrada, encontrou com uma figura desprezível:
Vestida de negro, rosto cadavérico e portando uma foice, não teve dúvidas em reconhecer: Era a morte.
– Como é? Veio me pegar? Logo agora que vou descansar? – Disse àquela execrável senhora.
– Não – respondeu a abominável criatura. – Vou fazer um servicinho na tua cidade. Aproveito a tua saída, para espalhar uma peste, naquela (até então) saudável cidadezinha. É preciso. Não tenho outra saída. Cumpro ordens superiores. É bom você ficar quietinho, tirar férias e demorar um bom tempo longe daqui. Você vai ser poupado.
– Mas, morte... Tenha dó daquele povo... Matar a todos???
– Bem... Podemos negociar... – Disse a “coisa ruim”. Reduzir para 50%. Que tal um acordo?
– Acordo?? Eu não faço acordo com a morte! Nem vou pedir ajuda aos colegas de fora.
– Então... Não tem jeito...
– Espere! Está bem... Mas jura que matará somente 50% dos cidadãos?
– Juro! Só matarei a metade.
Passados dois meses, o doutor, achando que já era hora, decidiu retornar à cidade, que tanto protegeu.
No caminho encontrou a morte, que pela expressão na caveira, parecia ter cumprido a tarefa. Fingiu que não a viu e seguiu rapidamente para seu destino.
Ao chegar à cidade, surpreendeu-se com o que se deparou a sua frente: Todos haviam morrido.
Numa ira incontrolável, embarcou no seu automóvel e rumou de volta para a estrada, a fim de alcançar a morte.
– Trapaceira! Você mentiu para mim!
– Não senhor! Eu cumpri o que prometi. A peste só matou metade da população... A outra metade morreu de medo...
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Assim está nossa metrópole, em outubro e novembro. O medo, quase provoca mais vítimas, que os terríveis atentados. Ninguém sabe para onde correr, apavorados com ameaças e boatos... Simplesmente aterrorizados.

E isso pode ser somente o começo.
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Lembro-me também de um poema:
"No caminho com Maiakovski" de Eduardo Alves da Costa
"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa.
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

JUSTIÇA


Enquanto eu não conhecer a realidade dos fatos,
não poderei exteriorizar meu juízo de valor.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

70 ANOS DO ZÉ CARIOCA

Minha homenagem a Walt Disney, que contribuiu para aproximação dos EEUU com os países latinoamericanos, através da criação do personagem Joe Carioca, no filme "Saludo Amigos" de 1942.

http://www.youtube.com/watch?v=_mQHr8bAojU

terça-feira, 6 de novembro de 2012

FALÁCIAS, FALÊNCIAS E FALECIMENTOS.

O poder da palavra proferida.

As notícias (boas ou ruins) percorrem o cyberspaço com velocidade impressionante.
Momento propício para a releitura de uma parábola:

 


Em uma cidadezinha de um país europeu, havia uma senhora com idade já avançada.
Todos a conheciam e evitam seu convívio.
Ocorre que um dia ela resolveu entrar na Igreja do povoado e se confessar.
Ao ajoelhar-se no degrau do confessionário, o padre confessor lhe perguntou:
- O que a traz aqui, cara paroquiana?
- Senhor padre, a sua benção! Eu vim até aqui porque sou uma pecadora.
- Todos nós somos... Irmã. Mas, prossiga!
- Sabe... Eu prejudiquei muita gente nesta minha vida desalmada. Por minha causa, um colega de trabalho foi despedido por justa causa! Ele era um empregado exemplar... Tinha três filhos e foi preso por roubo. Perdeu o emprego, a mulher e o respeito dos filhos. Acabou suicidando-se na cela da prisão. Isso foi um mal muito grande, padre!
- Foi sim, minha filha... Mas prossiga...
Então eu fiz uma intriga entre marido e mulher. Enchi a cabeça da moça com a idéia de que o marido ficava com outra mulher mentindo que fazia hora extra no trabalho. Eles discutiram, brigaram se agrediram e acabaram se separando. Hoje ela casou com outro e ele constituiu outra família, depois de se tornar um dependente do álcool.
- Mas isso foi uma atitude muito grave de sua parte, senhora!
- Sim, foi... Como estou arrependida! Mas não fico por aí... Eu fui causadora da falência de uma empresa, quando falei para toda a vila que eles enganavam, roubavam os clientes! Um deles ficou muito doente e acabou morrendo. O outro enlouqueceu. O que eu devo fazer agora, padre?
Minha cara: a sua consciência deve estar pesadíssima. Mas dá-se um jeito.
- Peça a penitência que quiser padre! Eu mereço, preciso aliviar minha consciência.
- Pois bem, quero saber uma coisa:
- Diga padre!
- A senhora tem um travesseiro de penas?
- Sem dúvida! Tenho, sim, mas por quê?
- A senhora conhece aquele morro lá nos limites da cidade, não? O lugar mais alto de nossa terra. De onde se observam os rios, as matas e os pássaros voando ao redor...
- Claro, conheço, sim! O que propõe?
- Proponho que suba com seu travesseiro nas mãos e chegando ao alto do morro, rasgue seu travesseiro e deixe escapar as penas ao vento. Depois que espalhar bem, volte aqui com a fronha.
- Só isso, padre?
- Sim; estará concluída a primeira parte da penitência.
- Assim farei; muito obrigada, Senhor!
E saiu da Igreja determinada a cumprir a penitência.
Dias depois, ela voltou ao confessionário com a fronha na mão.
- Pronto padre! Cumpri com a penitência!
- Chegou a hora de realizar a segunda parte da sua redenção: volte até o local onde se espalharam as penas e recolha todas uma por uma; reencha seu travesseiro com as penas que se soltaram.
- Mas isso é impossível, senhor padre! Como posso? O vento carregou-as até o riacho, as aves levaram para forrar os ninhos, o gado pisoteou e até defecou em outras... Jamais poderei recolher todas as penas de volta ao travesseiro!
- Pois é, cara paroquiana... As pessoas que a senhora prejudicou, também jamais recuperarão o que perderam. Aquele que cometeu o suicídio, assim como aquele que morreu doente, não ressuscitará; o marido não voltará para a esposa que está com outro esposo e outros filhos, a empresa não terá mais capital para se reerguer, até porque um dos sócios já não vive...
- Por isso, muito cuidado com o uso da palavra. Ela tem o poder de destruição sem limites, uma força imensurável, que causa a dor, a discórdia e a infelicidade nos outros.
- Volte para sua casa e reflita sobre isso... E que Deus se apiede da senhora.

(Parábola de autoria desconhecida com adaptação de Dilson Nunes).