sexta-feira, 27 de abril de 2012

A resistência à cultura e ao saber.


No tempo da minha mãe, (década de 30) aprendia-se a ler e escrever corretamente, através dos recursos: Lousinha de pedra, caneta com pena e... Palmatória. 
Para quem não sabe: esta última ferramenta de educação consistia em uma espécie de raquete com furos, que aplicada com força na palma da mão do estudante omisso era um forte argumento na disciplina dos colegiais. 
A lendária Professora Revocata, do Rio Grande do Sul, fazia uso constante dessa férula; e mesmo assim foi evocada em prosa e em verso atravessando décadas. 
E minha mãe tinha medo de ir à escola. 
No meu tempo, (década de 50) já não existiam palmatórias, mas sim réguas e ponteiras em madeira maciça, que quando não apontavam as palavras ou números no quadro negro, eram desferidos nas cabeças dos que não conseguiam ler aquelas palavras ou números. 
Muitos desses objetos de tortura foram quebrados na minha cabeça. Muitos pescoções, puxões de orelha e joelhos beijando o chão cobertos com milho. 
E eu tinha medo de ir à escola. 
Mais tarde, no ginasial, aula de Latim: quem não sabia declinar as palavras no nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo e ablativo, tinha como dever de casa escrever 100 vezes a tal declinação, senão era zero na nota. 
Até hoje eu não sei de cor o nome das seis esposas do Rei Henrique VIII da Inglaterra. Isso me custou uma reprovação em História. E como me fez falta não saber o nome das cortesãs do reino britânico! 
E assim eu tinha medo de ir à escola. 
Hoje, na era dos celulares, da internet e dos tablets (as lousinhas do século XXI) fiquei sabendo que um aluno do curso noturno do ensino médio abordou a professora com as provas corrigidas dirigindo-se à sala de aula e ao certificar-se de que a mesma reparou no calibre 38 preso em sua cintura perguntou: - Qual foi minha nota mesmo, “fessora”? 
Também li a respeito de frases publicadas nas redes sociais ameaçando professores. E eles (os professores) têm medo de ir à escola... 
Há séculos que a relação docente aluno é deturpada. O aluno é um buscador do saber; e o educador é quem ilumina seus caminhos. O lente assume o papel de encaminhar o pupilo... Para a vida. Mas é preciso entender que não dá mais para ensinar como em um quartel. Por que os universitários, que já são adultos feitos preferem jogar baralho e tomar chope ao invés de sentar-se disciplinadamente na carteira escolar? 
Há uma série de coisas envolvidas: O salário, o domínio da matéria, a didática. Tudo isso necessita reestruturação e com urgência! O professor é cada vez mais desvalorizado. E é uma inevitável vítima da síndrome de Burnout. 
Não podemos cruzar os braços diante de um problema que nos coloca entre os piores do mundo no quesito educação. 
Os pais dizem que o problema é dos professores. Os professores declaram que o problema e da educação no lar. E os alunos se queixam de ambos: Pais e educadores. 
E todos em uníssono: A culpa é do governo! 
Vamos apenas concordar com isso e deixar acontecer?